segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A ‘INSATISFEITA’ DE CAMILLE JENATZY (OU A DERROTA DA VIRTUDE CONTRA A GANÂNCIA)

Há cerca de uns 30/35 anos tive a oportunidade de visitar um museu da cidade de Compiègne (França) consagrado aos transportes. E quedei-me embasbacado diante de uma das viaturas automóveis ali expostas. A dita tinha, curiosamente, a forma de um supositório (salvo seja) e havia sido baptizada pelo engenheiro belga Camille Jenatzy, seu inventor, com o sugestivo nome de «La Jamais Contente»; o que significa, na nossa língua, ‘A Insatisfeita’.

Esse veículo bateu (e é isso que é deveras surpreendente), em Achères, França, no ano de 1899, o recorde absoluto de velocidade, ao atingir a marca de 105,9 km/hora. Convém precisar que essa viatura era eléctrica (funcionava com baterias) e que atingira essa velocidade fenomenal para a época (já lá vão 110 anos !) em menos de 10 segundos. Esse recorde de Camille Jenatzy só seria ultrapassado por um veículo a gasolina 3 anos mais tarde.

Assim, é fácil depreender que, se a indústria automóvel tivesse optado, nesse final de século XIX, por privilegiar a técnica do motor limpo, nós tínhamos hoje um universo menos poluído, teríamos conservando o essencial das reservas de petróleo do planeta Terra e os nossos automóveis nos custariam provavelmente uma bagatela.

É verdade também que os produtores de petróleo texanos, os emires do Próximo-Oriente e os grandes accionistas das refinarias seriam menos ricos, menos perdulários, menos arrogantes e teriam, com toda a certeza, de encontrar outras fontes de receita. E que os governantes (que nos tiram coiro e cabelo com as taxas aplicadas aos carburantes) teriam, igualmente, que encontrar outras maneiras de explorar o Zé Povinho. Ou, então, teriam de abdicar do despesismo (por vezes desnecessário e até ultrajante) do aparelho de Estado.

É por estas razões que os pretensos progressos feitos, actualmente, com viaturas eléctricas não me surpreendem minimamente. Porque, na prática, vão aparecer demasiado tarde. Mais de um século depois de Jean Jenatzy e da sua ‘Insatisfeita’ terem feito a demonstração cabal de que era esse o caminho a seguir.

Mas valores (que não os do interesse público) mais altos se ‘alevantaram’...

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