terça-feira, 17 de novembro de 2009

«O IRAQUE É AQUI», DE JORGE ARAGÃO (*)


Gosto muito desta canção, do seu ritmo arrastado -quase trágico- e da letra, que, presumo eu, foi inspirada ao seu autor-compositor pela situação de guerra civil que se vive nalgumas favelas da chamada (agora injustificadamente) «Cidade Maravilhosa». O conflito entre a tropa de elite da polícia militar do Rio de Janeiro e os traficantes de drogas locais -armados até aos dentes e dispostos a guardar a sua autoridade sobre os bairros problemáticos- tem ensanguentado as ruas íngremes e tortuosas dos morros e juncado o chão de cadáveres. Por vezes de inocentes, que se encontravam no sítio errado à hora errada. Esta guerra doméstica, na qual são usadas armas pesadas, capazes de derrubar aeronaves (como ainda há poucos dias se viu), parece não ter fim à vista. Julgamos mesmo que ela se vai agravar, na sequência da atribuição -pelo Comité Olímpico Internacional- da organização dos Jogos de 2016 à cidade fundada por Eustácio de Sá em 1565.
É que se torna necessário criar ali, rapidamente, um clima favorável à vinda dos muitos milhares de turistas (com bastantes dólares no bolso, já se vê) que o Brasil espera receber aquando deste evento desportivo de importância universal. Quanto aos problemas sociais, que estão na base desta dramática situação, logo se verá…
Aqui deixo a letra da canção citada e a recomendação para que adquirem o disco na qual ela figura. O CD chama-se «Roda de Samba».

«O IRAQUE É AQUI»

O Iraque é aqui
Tá pegando aqui dentro
O Iraque é aqui
O povo tá com medo
E há que se entender
Crer
Eh ! Carandiru (Bangu)
O Iraque é aqui
O gueto tá fervendo
Pior que isso aqui
Que a gente tá vivendo
É saber que o poder
Pode poder
Trocar de mão
Fingir que até ficou de mal
Sabe porquê ?
Aqui tudo é bom, aqui tudo é bom
Aqui tudo é bom, aqui tudo é bom
Aqui tudo é bom, aqui tudo é bom
Toca bola e samba que eles baixam o som

(*) O cançonetista e autor-compositor Jorge Aragão é natural do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 1949. Começou a sua carreira de sambista nos anos 70 em bailes populares e casas de espectáculos de segunda categoria, até que, em 1977 -graças ao êxito alcançado pela sua composição «Malandro», gravada por Elza Soares- se tornou conhecido e querido de um público mais vasto e mais exigente. Pertenceu ao grupo Fundo do Quintal, mas rapidamente o abandou para se consagrar a uma carreira vivida a solo. Muitos e famosos intérpretes de samba (como Martinho da Vila ou Alcione, por exemplo) cantam composições suas. Jorge Aragão é hoje, três décadas depois de ter optado por cantar sozinho, um dos grandes nomes da música popular brasileira, com muitos sucessos gravados, tais como «Coisa de Pele», «Vou Festejar», «Amigos… Amantes», «Do Fundo do Nosso Quintal», «Enredo do Meu Samba», «Moleque Atrevido», etc; além da excelente canção que está na origem destas linhas.

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