quinta-feira, 12 de novembro de 2009

OS FILMES DA MINHA VIDA (4)



«AS DUAS MULHERES»

FICHA TÉCNICA
Título original : «La Ciociara»
Origem Itália
Género : Drama
Realização : Vittorio de Sica
Ano de estreia : 1960
Guião : Cesare Zavattini e Vittorio de Sica
Fotografia (p/b) : Gábor Pagany
Música : Armando Trovajoli
Montagem : Adriana Novelli
Produção : Carlo Ponti
Distribuição Titanus Distribuzione
Duração : 101 minutos

FICHA ARTÍSTICA
Sophia Loren ………………………………… Cesira
Eleanora Brown ……………………………. Rosetta
Raf Vallone ……………………………………. Giovanni
Jean-Paul Belmondo …………………….. Michele
Renato Salvatori …………………………… Florindo
Carlo Ninchi …………………………………… o pai de Michele
Andrea Cecchi ………………………………. Um fascista
Emma Baron …………………………………… Maria
Franco Balducci …………………………….. um alemão
Luciano Pigozzi ………………………………. o cabo da milícia

SINOPSE
Está-se num bairro popular de Roma, no ano de 1943. Depois de um violento bombardeamento da aviação aliada, Cesira –uma jovem e apetecível viúva- decide abandonar a cidade na companhia de Rosetta, a sua filha de 13 anos, para procurar refúgio na sua terra-natal. Antes, porém, de sair da capital, Cesira deixa a sua modesta mercearia ao cuidado de Giovanni, um vizinho que também é seu ocasional amante.
Depois de uma atribulada viagem, durante a qual Cesira e Rosetta são -tal como outros refugiados, o alvo dos aviões de guerra e do oportunismo daqueles que prosperam escandalosamente à custa do mercado negro- as duas mulheres conseguem chegar, finalmente, a Sant’Eufemia, uma aldeia isolada das montanhas da Ciociaria.
Em Sant’Eufemia, as refugiadas travam conhecimento com Michele, um jovem e atraente universitário. Rosetta apaixona-se por ele, mas Michele (a quem todos chamam professor) despreza o amor da adolescente, para cortejar abertamente Cesira, fomentando, assim, um conflito entre mãe e filha.
Um dia aparece no lugarejo um grupo de militares alemães que, na sua debandada, obriga Michele a servir-lhe de guia através das agrestes montanhas da região. Sentindo-se ainda mais inseguras do que em Roma, Cesira e Rosetta empreendem o regresso à cidade. Mas, aquando de uma paragem (que fizeram para descansar) nas ruínas de uma igreja, as duas mulheres são surpreendidas por um destacamento de soldados magrebinos –ao serviço do exército francês- que as brutalizam e violam.
Depois dessa traumatizante experiência, Rosetta aceita o convite de Florindo (um camionista que as recebera provisoriamente em casa de seus pais) para ir dançar com ele num baile da região. Cesira não prega olho durante toda a noite e, quando a filha regressa, de madrugada, exibindo um presente do companheiro de circunstância (um par de meias de vidro), as relações das duas mulheres ainda mais se complicam e deterioram.
A brutal e dolorosa notícia da morte de Michele –fuzilado pelos nazis- acaba, no entanto, por reconciliar mãe e filha e por transmitir-lhes a força necessária para enfrentar o futuro. Futuro que -na perspectiva de uma próxima derrota do fascismo e da libertação de Itália- se anuncia menos trágico e portador de novas esperanças…

O MEU COMENTÁRIO
Com entrecho inspirado em «La Ciociara», famoso romance de Alberto Morávia, esta película de Vittorio de Sica é, sem dúvida, uma das melhores da sua vasta filmografia e também uma das mais belas obras de sempre do cinema transalpino.
Produzida por Carlo Ponti, esta fita marca o regresso de sua esposa –a explendorosa Sophia Lorem- ao cinema italiano, após seis longos anos de ausência. Refira-se, a título de pura curiosidade, que a adaptação fílmica do livro de Morávia já havia sido estudada uns anos antes da sua realização. George Cukor deveria dirigir a película, na qual Ana Magnani interpretaria o papel de Cesira. Mas, como o de Rosetta havia sido oferecido a Sophia Loren, a fogosa Magnani recusou, determinantemente, encarnar a figura de mãe dessa sua colega e rival. Sendo, nessas circunstâncias, o projecto adiado ‘sine die’.
Rodado a preto e branco –com fotografia inesquecível de Gábor Pogany- o filme «As Duas Mulheres» obteve um êxito retumbante em todos os países onde foi exibido, tendo ganho uma vintena de recompensas internacionais. Quanto a Sophia Loren, que nesta película tem um desempenho simplesmente fabuloso, registe-se que recebeu, entre vários outros prestigiosos galardões, o Prémio de Interpretação Feminina do Festival de Cinema de Cannes (edição de 1961) e o Óscar atribuído (também nesse mesmo ano) à melhor actriz.

Reparo final : a cena choque da violação de Cesira e Rosetta assenta em factos reais. Com efeito, as tropas magrebinas -ao serviço do corpo expedicionário francês do general Juin- que estiveram nos combates de Monte Cassino, cometeram atrocidades (e isto não é racismo…) sem nome nessa e noutras regiões da Itália em guerra. Calcula-se que essa soldadesca incontrolada tenha violado no país mais de 2 000 mulheres, centenas de homens e assassinado mais de um milhar de pessoas, que tentaram resistir aos seus abusos. O trauma foi tão grande, que na Itália, depois desses ignóbeis acontecimentos, se passou a designar o acto de violar pelo vocábulo ‘marocchinare’, o que diz tudo…
(M.M.S.)


dois grandes actores europeus reunidos num grande filme de Vittorio de Sica : Jean-Paul Belmondo e Sophia Loren

Sem comentários: