sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

OS FILMES DA MINHA VIDA (10)


«O explendor, a selvajaria e o espectáculo que você lembrará toda a vida». Era assim que, no início da década de 50, o cartaz original apresentava o filme de Mervyn LeRoy.

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«QUO VADIS»

FICHA TÉCNICA
Título original : «Quo Vadis»
Origem : E. U. A.
Género : Peplum
Realização : Mervyn LeRoy
Ano de estreia : 1951
Guião : John Lee Mahin, S. N. Behrman e Sonya Levien
Fotografia (c) : Robert Surtees
Música : Miklós Rozsa
Montagem : Ralph E. Winter
Produção : Sam Zimbalist
Distribuição : Metro Goldwyn Mayer
Duração : 171 minutos

FICHA ARTÍSTICA
Robert Taylor -------------------- Marcos Vinicius
Deborah Kerr --------------------- Lígia
Peter Ustinov --------------------- Nero
Leo Genn -------------------------- Petróneo
Finlay Currie ---------------------- Pedro
Buddy Baer ------------------------ Ursus
Patricia Laffan -------------------- Popeia
Nora Swinburne ------------------- Pompónia
Abraham Sofaer ------------------ Paulo
Marina Berti ---------------------- Eunice

SINOPSE
Marcos Vinicius, cônsul imperial, regressa vitorioso a Roma à testa da 14ª Legião, depois de uma longa e difícil campanha militar contra bretões e gauleses. Enquanto se ultimam os preparativos da sua marcha triunfal, Marcos fica hospedado em casa de uma família patrícia que vive na periferia da capital. É ali que ele sucumbe aos encantos de Lígia, a belíssima filha adoptiva dos seus anfitriões.
Ao tomar conhecimento, porém, de que Lígia não passa de uma simples refém do Império confiada à guarda da família que o recebera, Marcos vai intrigar junto da corte e obter (graças a Petróneo, seu tio e hábil adulador de Nero) que a escrava estrangeira seja confiada à sua própria guarda.
Retirada à força da companhia daqueles a quem se afeiçoara, Lígia é obrigada a assistir às pomposas festividades organizadas –no palácio imperial- em honra do seu ilustre suspirante. Mas, no termo dessas manifestações, Lígia consegue escapar a Marcos graças à ajuda activa de alguns dos seus amigos. Amigos que, como ela própria, pertencem a uma seita religiosa que segue os ensinamentos de um certo Jesus Cristo, humilde carpinteiro de Nazaré, supliciado pelos Romanos em Jerusalém há uns 30 anos atrás.
Dando-se conta do amor que sente por Lígia, o general romano decide assistir a uma reunião de cristãos, que terá lugar nas catacumbas e que será presidida por Pedro, um antigo discípulo do nazareno. Com o intuito de resgatar Lígia, se necessário for pela força, Marcos Vinícius aluga os serviços de um temível gladiador, que, não obstante gozar da fama de ser o homem mais forte do Império, acabará por morrer às mãos de Ursus, o bom gigante que protege Lígia em permanência.
Entretanto, Nero, que durante um dos seus frequentes acessos de demência incendiara Roma, manda propagar o boato de que a catástrofe se deve imputar aos cristãos. E manda prender todos os seguidores dessa estranha religião, que haviam desprezado as divindades oficiais para passarem a venerar um Deus único e omnipotente.
Lígia é, assim, encarcerada com os seus companheiros de fé. Aos quais se virá juntar Marcos, que, inesperadamente, se rebelara contra a tirania de Nero. E é assim, ao lado da sua amada, que aquele que fora um orgulhoso dignitário imperial, se prepara para enfrentar –nas arenas de Roma- uma multidão em delírio e as feras que rugem…

O MEU COMENTÁRIO
Este «Quo Vadis» de Mervyn LeRoy foi precedido por meia dúzia de outras adaptações cinematográficas do famoso romance homónimo de Henryk Sienkiewicz. A mais conhecidas dessas fitas precursoras da obra que aqui se apresenta é, certamente, aquela que George Jacoby e Gabriele d’Annunzio (o poeta) realizaram em 1924.
A rodagem desta nova versão, em formato largo e em ‘technicolor’, deveria ter sido dirigida por John Huston e contar com Gregory Peck e Elisabeth Taylor nos principais papéis. Esse projecto acabou, no entanto, por gorar-se e quando a M. G. M. decidiu, finalmente, retomá-lo foi para confiar a sua realização a Mervyn LeRoy e distribuir os papéis de Marcos e de Lígia a Robert Taylor, um dos valores seguros do momento, e a Deborah Kerr, também ela muito querida do público da época.
«Quo Vadis» -que narra o martírio dos primeiros cristãos numa Roma dominada pelo sanguinário Nero- alcançou um sucesso extraordinário no mundo inteiro. E Portugal não foi excepção. Aqui esse sucesso até foi empolado, pelo facto de se saber que os produtores da fita haviam contratado forcados portugueses para dobrar algumas das personagens do filme, que deveriam afrontar toiros bravos nas arenas de Roma. Assim, nos anos 50 (e até na década seguinte), o público português vibrava de maneira ruidosa quando Nuno da Salvação Barreto (substituindo anonimamente o atlético Buddy Baer, o Ursus da fita) subjugava uma daquelas feras, para salvar a vida à bela e inocente Lígia.
Essa cena dos cristãos remetidos às feras e o realista incêndio de Roma contam-se, aliás, entre as sequências da película que mais impressionaram as plateias do tempo, já que filmadas com um alto sentido do espectáculo. As alucinantes imagens da cidade incendiada eram (e são) de tal modo credíveis, que houve quem afirmasse que, no memorável ano 64 da nossa era, o próprio Nero não pudera, com toda a certeza, fazer melhor !
No capítulo interpretativo, ateste-se que as vedetas da fita se saíram da melhor das maneiras no desempenho dos respectivos papéis, justificando, desse modo, os miríficos ‘cachets’ que então auferiram. Taylor foi um garboso e convincente cônsul da Roma Imperial que, pouco a pouco e pelos belos olhos de uma escrava cristã, descobre a mensagem de amor e de tolerância legada por Jesus da Galileia. Quanto a Deborah Kerr, ela é, nesta película, a perfeita personificação da ternura. Uma nota alta (diremos mesmo, a mais alta) deve ser atribuída ao grande e saudoso actor Peter Ustinov, que aqui nos ofereceu um magistral trabalho de interpretação, ao dar corpo e voz à figura detestável de Nero. Soberano que, segundo a ‘vox populi’, terá destruído a capital do seu próprio império pelo fogo. Acto que, na opinião de abalizados historiadores, parece não ter o mínimo fundamento.
Cite-se, enfim e a título de curiosidade, que esta colossal produção foi rodada (em grande parte) nos renovados estúdios da Cinecittà, em Roma. «Quo Vadis» custou qualquer coisa como 7 milhões de dólares, uma soma faraminosa para o tempo. Os benefícios gerados pela exibição comercial do filme ascenderam a 25 milhões, ultrapassando, assim, os lucros proporcionados por «E Tudo o Vento Levou», que, nessa matéria, era, até então, a fita-referência da Metro Goldwyn Mayer.

(M.M.S.)


Robert Taylor e Deborah Kerr numa cena romântica de «Quo Vadis»


Peter Ustinov (Nero) teve, nesta produção da M. G. M., uma das suas melhores interpretações de sempre


Cartaz francês de «Quo Vadis»

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