quarta-feira, 24 de março de 2010

EPISÓDIOS DA NOSSA HISTÓRIA : O «REMEXIDO»


Portugal, na primeira metade do século XIX : já depois de ter acabado a guerra civil que opôs o partido liberal aos partidários de D. Miguel (o «Rei Caceteiro», como gostavam de lhe chamar os seus adversários políticos), o Algarve ainda foi cenário de violentos combates. Esses combates colocaram frente a frente o exército regular e os guerrilheiros miguelistas de José Joaquim de Sousa Reis, um ex-capitão de ordenanças das tropas absolutistas alcunhado o «Remexido».
Senhor de uma audácia extraordinária, o «Remexido» (ou «Remechido») chegou a atacar o quartel de Infantaria de Messines e a levar a melhor nalguns confrontos com a tropa de linha. Os seus êxitos ficaram a dever-se ao seu profundo conhecimento do terreno de actuação -o das terras altas do Algarve- ao apoio de alguns elementos da população local e ao papel de verdadeiro comissário político desempenhado, junto dos seus homens (sobre os quais exercia grande influência), por um dos seus seguidores, o padre Marçal José Espada.
A sorte, que durante muito tempo bafejara o «Remexido» na sua luta contra os liberais, esgotou-se em finais do mês de Julho de 1838, quando o famoso e ousado guerrilheiro se atreveu a desafiar as forças, bem equipadas e numericamente superiores, do coronel Fontoura. Derrotado e capturado pelos legalistas, José Joaquim de Sousa Reis foi conduzido a Faro, cidade onde foi julgado em tribunal militar e condenado à morte. Diz-se que a graça ainda lhe foi concedida por autoridade régia, mas a verdade é que o «Remexido» acabou por ser fuzilado na capital do Algarve no dia 2 de Agosto de 1838. A guerrilha miguelista ainda lhe sobreviveu alguns meses, até ser irradicada definitivamente do sul de Portugal.


Durante muito tempo, pouca coisa se soube sobre este singular guerrilheiro miguelista e sobre a sua acção na serra algarvia. A investigação desenvolvida por universitários e por curiosos interessados por esta personagem e a consequente publicação dos seus trabalhos, permitiu, finalmente, dar-lhes alguma visibilidade. «A Guerrilha do Remexido», da autoria de António do Canto Machado e de António Monteiro Cardoso (que eu ainda não li) é uma das várias obras já publicadas sobre o assunto

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