sexta-feira, 23 de agosto de 2013

AS MINHAS LEITURAS : «ESCRAVOS E TRAFICANTES NO IMPÉRIO PORTUGUÊS»

Estou, actualmente, a ler um livro deveras interessante com o título acima referido. É da autoria do historiador Arlindo Manuel Caldeira e foi editado, há poucos dias, pela Esfera dos Livros. Esta obra é fruto de uma pesquisa exaustiva do seu autor sobre o comércio negreiro português no Atlântico, durante os séculos XV a XIX. E traz-nos informação nunca antes divulgada sobre a participação lusa no «infame comércio». Depois de terem exercido, durante quase dois séculos, o monopólio do tráfico transatlântico de escravos, os Portugueses tiveram que fazer face à feroz concorrência das nações do norte da Europa -Inglaterra, França, Países Baixos, Dinamarca- que, todas elas (e mais algumas) colheram benefícios do negócio de seres humanos. Mas, ainda assim, os Portugueses conseguiram sobrepor-se à concorrência internacional, já que -como refere o autor de «Escravos e Traficantes no Império Português»- perto de 6 dos 13 milhões de escravos transferidos de África para as Américas foram transportados em navios arvorando a bandeira de Portugal e/ou a do Brasil colonial. É verdade que isso é uma nódoa na nossa História, da qual ninguém pode regozijar-se. Nem nós Portugueses, nem os outros povos que também tiraram proveito dessa ignóbil actividade. Não se fique com a falsa ideia, porém, que foram os nossos compatriotas de antanho que 'inventaram' esse abjecto comércio. Na verdade, a escravatura é velha como o Mundo e, em África, ela foi um dos negócios mais lucrativos dos Árabes; que antes das navegações lusas dos séculos XV e XVI já haviam penetrado profundamente no chamado Continente Negro. Por outro lado, no tempo do tráfico desenvolvido pelos Portugueses, os escravos eram capturados em tribos do interior de África pelos sobas do litoral, que depois faziam negócios chorudos, vendendo-os aos traficantes lusos e, mais tarde, aos esclavagistas de outras nacionalidades. As responsabilidades de europeus e africanos foram, portante, partilhadas. O que não é para o cidadão português bem formado dos dias de hoje um alívio, um consolo. Naturalmente. O interessante será mesmo ler este livro bastante instrutivo sobre um passado obscuro e nunca antes revelado ao grande público. Recomendo-o vivamente.

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