sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

A ESSÊNCIA DOS NOSSOS POETAS





TERRA-LONGE

Aqui, perdido, distante
das realidades que apenas sonhei,
cansado pela febre do mais-além,
suponho
minha mãe a embalar-me,
eu, pequenino, zangado pelo sono que não vinha.

"Ai, não montes tal cavalinho,
tal cavalinho vai terra-longe,
terra-longe tem gente-gentio,
gente-gentio come gente."

A doce toada
meu sono caia de manso
da boca de minha mãe:

"Cala, cala, meu menino,
terra-longe tem gente-gentio
gente-gentio corne gente."

E envelheceu lá dentro
Não posso conceber
O que vêem as meninas
Dos meus olhos
Depois que sou livre.

Abrolhos são flores,
Amores, vida.
0 que é a magia da sombra!...

Agora já posso gritar:
Livre! Livre!

Tapei o poço da morte, a cantar.



***Pedro Corsino de Azevedo, poeta caboverdiano (1905-1942)***

MARÉ DE AZAR

Com quase 70 anos de idade, é normal que eu vá vendo desaparecer algumas daquelas figuras que me habituei a admirar. É a lei da vida... Esta semana (que grande azar !), foi com enorme consternação que soube da notícia do falecimento -no dia 25- de Mário Esteves Coluna. O tal Coluna, que eu tantas vezes vi jogar (nos relvados, não na TV) integrado numa das melhores equipas (senão a melhor de sempre) que o Benfica jamais teve. Lembro-me da sua figura discreta (o Coluna não era jogador para exuberâncias), mas que, no campo, era de uma eficácia extraordinária, sobretudo quando se tratava de organizar o meio campo dos encarnados e de distribuir jogo aos fazedores de golos : Eusébio, José Augusto, Simões, Torres. Aqui fica, pois, a minha sentida homenagem ao homem que a FIFA considerou, a justo título, um dos 100 melhores futebolistas do século XX. A um homem que serviu e muito honrou o desporto de duas nações -Portugal e Moçambique- e que deixará, por muito tempo ainda, as mais gratas recordações aos apreciadores de futebol. Curiosamente, o Mário Coluna tinha raízes familiares na minha região, pois seu pai e ascendentes eram naturais da vila de Mação, situada a escassos quilómetros (uma trintena) da minha aldeia-natal. Refiro este facto, porque ele é pouco conhecido. Outra afinidade do capitão benfiquista com a minha região tem a ver com o seu fim de carreira em Portugal; que Coluna viveu, na qualidade de treinador, no clube Estrela de Portalegre.

No dia seguinte ao da morte de Mário Coluna, a 26 de Fevereiro, veio ao meu conhecimento outra má e chocante notícia : a do passamento de um dos reis do flamenco, Paco de Lucía. Virtuose da guitarra, conhecido no mundo inteiro, graças aos seus concertos e à edição de inúmeros CD's, Paco de Lucía (natural da cidade de Algeciras) faleceu, com 66 anos de idade, em Playa del Carmen, no México, onde há muito residia. É bom saber que este 'músico do outro mundo', que este fenómeno da guitarra flamenca, também tinha ascendência portuguesa. A sua mãe, Lúcia Gomes, era uma algarvia de Castro Marim, localidade que seu filho muito prezava; ao ponto de, em 1981, ter gravado um álbum intitulado «Castro Marín». Dos seus trabalhos talvez seja  justo destacar um fabuloso «Concerto de Aranjuez», gravado em vida do seu autor (Joaquín Rodrigo), que este considerava o melhor de todos os que jamais ouvira executar. Adeus Paco. Fica-nos a consolação das tuas obras perdurarem, gravadas para a eternidade.

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

OS NOSSOS PORTA-AVIÕES...

Há uma grande falta de vergonha por parte dos membros deste (des)governo que temos. Gente que se agarra ao poder com unhas e dentes, como piolhos-ladros às púbis mal lavadas das mulheres chamadas (impropriamente) de vida fácil. Que, diga-se de passagem, são cada dia que passa em maior número a vender-se nas ruas e nos pinhais (mas também nas páginas centrais do «Correio da Manhã») em consequência do desemprego e da miséria provocada pelas políticas de empobrecimento que continuam a afundar este pobre país à beira mar prantado. Os homens da governança lançam agora, por todo lado (muitas vezes com a complicidade de jornalistas exageradamente crédulos ou muito pouco escrupulosos), mentirolas sobre a sua 'obra'. Aqui há poucos dias, o ministro (ou melhor, o sinistro) Paulo Portas -que desgoverna o país, com 7% de intenções de voto- largou a seguinte treta a propósito do envio para o mercado externo da produção das empresas portuguesas : «as exportações são os porta-aviões da nossa economia». E eu achei que este senhorito (um inútil, conhecido pelo seu oportunismo e pela sua falta de palavra) deveria escolher termos mais adequados para florir as suas desnecessárias arengas. É que, ao falar de porta-aviões, toda a gente se foi lembrar, forçosamente, dos submarinos de má-sorte que ele adquiriu na Alemanha (por mil milhões de euros !) quando foi ministro da defesa. Navios que contribuiram grandemente para o empobrecimento da generalidade dos Portugueses. E isso numa altura em que a dívida pública já estava, como todos nós sabíamos muito bem, completamente descontrolada. Como diz o outro, se houvesse vergonha, muitos destes figurões, que agora clamam e proclamam vitórias políticas inexistentes e vêem, nas trevas cerradas que nos envolvem, 'sinais' de prosperidade, fechariam o bico e não mostrariam mais as suas lúgubres e detestadas figuras nos ecrans da TV. Tenho dito.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

AS ATRIBULAÇÕES DA COLECÇÃO MIRÓ (DO EX-BANCO DOS LADRÕES)

85 quadros e desenhos da autoria de Joan Miró, ilustre artista catalão, foram confiscados ao B.P.N. na sequência da sua desastrosa nacionalização. Que tantos milhares de milhões (saídos e a sair dos bolsos dos contribuintes) está a custar ao nosso sacrificado povo. Essa colecção de obras de arte -que poderia constituir, por ela só, o espólio de um grande e prestigioso museu- saíu de Portugal ilegalmente e deveria ter sido vendida esta semana pela Christie's, uma afamada leiloeira de Londres. Devido à celeuma provocada na opinião pública portuguesa e à maneira ilegítima como essas obras foram levadas do nosso país, a supracitada leiloeira teve a inteligência de anular a venda prevista desse espólio que nos pertence. Demonstrando, assim, ter mais bom senso do que os 'responsáveis' deste país, que deveriam zelar pelos interesses de Portugal. E que não o fazem, embora sejam pagos para isso. Aliás o que nos parece é que essa gente é daquela que, quando ouve pronunciar a palavra cultura saca logo da pistola. Esta triste aventura dos quadros de Miró, que devem regressar às origens imediatamente, vai provavelmente custar caro ao erário público. Porque a Christie's vai querer receber uma avultada compensação pelas despesas que fez no mundo inteiro para promover a venda agora anulada e para compensar os lucros que perdeu com esse falhado negócio. Nesse caso que se pague a soma exigida. Porque uma colecção como aquela que foi levada para Londres será muito difícil de reconstituir (se se dispersar) e as peças perderão valor. E já agora, que se responsabilizem os anjinhos que engendraram esta caricata situação, que desprestigia o nome de Portugal. A começar pelo Secretário de Estado da Cultura, que, como o pede e muito bem um partido da oposição, deve ir para o olho da rua. Já !

HÁ BAIXA DO DESEMPREGO ?

Os membros do (des)governo têm, nestas últimas semanas, fincado os pés no chão e lançado estridentes cocoricós sobre uma pretensa diminuição do número de desempregados. Desempregados que eles próprios criaram às centenas de milhar, durante esta sua catastrófica passagem pelo poder. E parte da imprensa faz eco dessas fanfarronices, dessa basófia. Digam-me a mim, por favor, quais são as empresas que estão, actualmente, a admitir pessoal. Porque eu e os Portugueses -sobretudo aqueles que estão desempregados- gostaríamos de saber onde é que elas estão. É provavelmente verdade que há menos desempregados em Portugal, mas esse estado de coisas foi, essencialmente, provocado pelos muitos milhares de jovens (mas não só) que abandonaram o seu país para irem para o estrangeiro ganhar o pão a que têm direito.  E também pelo facto de se esconderem muitos milhares de pessoas em pseudo estágios de formação profissional, para que os seus nomes deixem de constar (durante um tempo) nas estatísticas. Para verificar a veracidade do que eu digo, basta aos senhores jornalistas percorrerem o país e contar esses estágios (que não levam a lado nenhum) e o número de pessoas que os frequentam. Aqui na minha região, no meu concelho (que tem um pouco mais de 4 000 habitantes), eu conheço, actualmente, três desses cursos, onde dezenas de jovens vão passar o tempo e recolher uns euritos para o tabaco. É essa a realidade e o resto é conversa fiada e puro cinismo... P.S. : curiosamente, os jornais de hoje anunciam a existência, no nosso país, de 81 000 licenciados desempregados há mais de 1 ano. E os de ontem faziam referência ao facto de metade da população desempregada deste país não ter direito a qualquer subsídio.