domingo, 17 de janeiro de 2016

FRAGATAS DO TEJO

Este cartaz de 2011 -destinado a promover uma exposição sobre as «Embarcações Tradicionais do Estuário do Tejo»- exibe uma fotografia da mais famosa de todas elas : a fragata. Que era o de maiores dimensões e o mais robusto desses típicos barcos à vela, que, outrora, navegaram nesse mar interior que é o desaguadouro natural do mais importante rio ibérico. Eu ainda conheci, nos anos 50 do passado século, o Tejo pejado de veleiros como este e assisti à sua morte anunciada, por mor do progresso; que trouxe ao estuário batelões motorizados e de maior porte, que destronaram Éolo e a milenária vela de pano. Repare-se no exemplar retratado no cartaz : transporta fardos de cortiça vindos do interior das terras e destinados às fábricas (a laborar em grande número, nesse tempo) da margem esquerda do rio. Esta fragata segue, talvez, para o Barreiro, Moita,  Alhos Vedros, Seixal ou Montijo, onde a indústria corticeira dava trabalho a milhares de pessoas. E atente-se no extraordinário volume da carga, que era constituída por fardos de 100 kg, todos eles manipulados e transportados (nas operações de embarque ou de descarga) às costas de homens. Que, naquele tempo, e apesar de se submeterem a um trabalho escravizante, recebiam ordenados verdadeiramente miseráveis; que só lhes permitiam (a eles e às suas famílias) sobreviver. Eu ainda conheci alguns desses heróis da vida real; como o saudoso amigo Sebastião R., nado e criado numa das supracitadas vilas da borda d'água, que, durante anos a fio, não teve outra profissão a não ser essa, a de carregador e descarregador de fragatas... (Clique na imagem, para a ampliar).

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