sexta-feira, 11 de maio de 2018

FANATISMO



FANATISMO

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver
Não és sequer a razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida.

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história, tantas vezes lida !

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
De uma boca divina, fala em mim !

E, olhos postos em ti, digo de rastros :
Ah ! podem voar mundos, morrer astros
Que tu és como um deus : princípio e fim !...


(Florbela Espanca, in «Livro de Soror Saudade» - 1923)

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